25 de novembro de 2010

Ele Robô



Desafiei os religiosos, quebrei tabus conservadores, aderi ao mundo da tecnologia, aboli certos conceitos [meus], ultrapassei as barreiras do certo e errado e criei você.
A priori tu eras apenas mais um de meus caprichos.
Naquele sábado agitado, perdido no meio de uma multidão eufórica, que consumia álcool em excesso em plena cidade pacata interiorana, vi os seus olhos de lata, um tanto mecânicos, sim, mas algo chamou atenção, sua estrutura, desgastada ou talvez desatualizada, agia como imã despertando meus desejos de tê-lo como meu.
Me aproximei aos poucos para não assustá-lo e por segurança também, afinal ainda não sabia quais programas predominavam em seu cérebro robótico, mas não tive trabalho, tu eras um robozinho dócil e foi mais fácil ainda torna-se tua dona.
Não demorou, para que eu o transformasse. Mudei seu design, desinstalei programas que o tornavam agressivo, acomodado e dependente de humanos.  Foram longos dois anos de cálculos, noites em claro na sua lataria. Tudo sempre metricamente pensado para que tu, enfim, virasse uma máquina respeitada, como dizem por aí “uma máquina potente”.
E não é que consegui! Estavas ali prontinho na minha frente, tive orgulho de mim, há pouco tempo havia tentado isso e não obtive êxito, mas dessa vez era diferente. Nada mais precisava ser ajustado, nem mesmo um parafuso. Chamei-o de “Obra prima NININO I”, que prepotência minha achar ter criado uma perfeição!
Foi quando tu me mostraste que mesmo sendo de lata existia perspicácia no teu sistema, ora essa! Eu programei-o para ser independente e agora via colocares em prática todos os programas instalados em tua memória artificial, porém funcional.
Hoje essa tua liberdade toda me incomoda, egoísmo talvez, o fato é que antes de meus ajustes eras apenas mais um robô perdido entre tantos outros, eu te recriei, tornei-o uma máquina cobiçada e potente.
Tão potente a ponto de o criador [eu] perder o controle da criação [tu].
Aprendeste a ter vida própria, mas antes sequer tinhas vida!
Foi uma criação tão amada que o deixei partir sem contestar, ao menos, uma franquia. De recordação guardei teu manual de instruções.
Os mesmo ventos que levaram a lataria para longe de seu criador, ou vice-versa, talvez o tragam de volta, ou não.

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